quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Para sírios, apenas "milagre" em reunião de paz pode acabar com guerra civil

R7
Os moradores de Damasco, cansados da guerra que os asfixia economicamente, afirmam que apenas "um milagre" na conferência de paz Genebra 2 pode levar ao fim dos combates. A conferência em Montreux, na Suíça, tentará nesta quarta-feira (22) abrir um diálogo entre o regime sírio e a oposição. Apesar das reduzidas expectativas, o objetivo será alcançar um acordo de paz ou, ao menos, delimitar zonas de cessar-fogo.
Na terça-feira (21), um dia antes da conferência, os bombardeios do Exército contra os subúrbios controlados por insurgentes e os disparos de morteiros por parte dos rebeldes em direção à capital se tornaram menos intensos.
Nas ruas do lado antigo de Damasco e em outros bairros da capital, há uma aparência de normalidade. Os habitantes se ocupam de seus assuntos, jovens tiram fotos diante da Mesquita dos Omíadas e homens vendem lembranças com fotos do presidente Bashar al Assad, mas o cansaço fica estampado nos rostos quando são perguntados sobre uma possível solução para um conflito que deixou cerca de 130 mil mortos desde março de 2011.
"Genebra? Tem que acontecer um milagre para que as coisas saiam bem", lamenta Akram, vendedor de verduras em Bab Tuma, um bairro histórico da capital síria. "Ninguém vai fazer concessões", acrescenta, referindo-se ao regime de Assad e à oposição.
Apesar disso, Akram se contentaria com uma trégua.
- O que queremos, antes de tudo, é segurança. Se não houver um cessar-fogo, nunca sairemos disto. Que conversem durante meses, mas eu quero dormir em paz.
O vendedor lamenta o impacto econômico do conflito para o país.
- Antes, exportávamos trigo e farinha. Agora, importamos esses produtos do Líbano e do Irã.
Maher, estudante de Medicina, chegou há cinco meses de Raqa, cidade no norte que, atualmente, é disputada guerreiros fundamentalistas (ligados à Al Qaeda) e pelos rebeldes sírios.
"Não tenho muita esperança", diz, enquanto come um waffle junto com sua noiva, deslocada de Homs, outra cidade bastante destruída com o conflito.
Genebra 2 "vai terminar sem resultado algum, ainda mais se o Ocidente tentar impor uma solução", acrescenta esse jovem sunita de 24 anos.
Sua noiva, Maha, é mais pessimista.
- A Síria nunca voltará a ser como antes. Acho que não haverá reconciliação porque houve sofrimento demais.
Omar, um padeiro em Bab Tuma, está feliz por ter deixado há um ano o campo palestino de Yarmouk, em Damasco, hoje assediado pelo Exército sírio.
"Estamos cansados. Precisamos de um verdadeiro milagre em Genebra", afirma o ex-contador de 31 anos.
"Ambas as partes têm que deixar o ego de lado. Do contrário, a paz é impossível", assegura ele, enquanto prepara um mankoush, um tipo de pão sírio.
Defensores do presidente
Há ainda aqueles que seguem os argumentos do regime ou criticam a oposição.
"Esperamos a vitória para nós e nosso presidente", declara um homem em Maryé, bairro do centro da capital. Nessa área, centenas de famílias se refugiaram em hotéis baratos.
"Tudo isto vai acabar quando os terroristas saírem do país", declara Amjdad, um idoso deslocado de Yarmouk, referindo-se aos rebeldes.
"Com quem nossos governantes vão dialogar?", pergunta Malek, no bairro popular de Sarouya, perto de Maryé. "A coalizão não representa ninguém", afirma.
Já no bairro de classe média alta de Rawda, Hussam, um estudante de dramaturgia diz ter tomado uma decisão: "Se eu sentir que nada mudou depois da conferência, vou deixar a Síria".

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