domingo, 29 de dezembro de 2013

'Dentistas' ilegais atendem clientes nas ruas do Paquistão

BBC Brasil
'Dentistas' ilegais atendem clientes nas ruas do Paquistão
Estatísticas recentes apontam que 78% da população não tem acesso a atendimento básico de saúde. Um dos informais que conversou com a BBC é Nooruddin, em Islamabad. Ele atende pessoas em uma ponte que passa por cima de um velho e sujo trilho de trem.
No chão, ao seu lado, está um cobertor sujo, com uma broca enferrujada, garrafas com líquidos turvos e vários dentes. Noorudin trabalha aqui há 20 anos, oferecendo soluções rápidas para problemas odontológicos.
Ele não possui qualquer tipo de qualificação profissional, mas seus clientes não reclamam.
O Paquistão não possui um sistema público de saúde abrangente, o que faz com que a população precise arcar com seus próprios custos no setor.
Menos de 1% do PIB do país é gasto em saúde - equivalente a menos de 4% do orçamento do governo.

Desigualdade

 da rua
A Associação Paquistanesa de Dentistas afirma que esse tipo de atividade é muito comum nas ruas e becos das cidades do país.
As autoridades já tentaram realizar diversas operações de combate à atividade clandestina. Mas existe grande demanda pelo serviço, sobretudo em vizinhanças pobres e favelas.
"Se você é rico e chique, vá a um dentista formado no exterior. Eu sou o médico dos pobres, e eu sou tudo que eles têm", doz Nooruddin.
A desigualdade entre ricos e pobres - cada vez maior no Paquistão - fica evidente com uma visita ao consultório de última geração do dentista Anees-ur-Rehman, também em Islamabad.
A sala de espera - decorada com arte moderna - está lotada de pacientes, vários vestidos com marcas de grife. Em um país onde mais de um terço da população vive abaixo da linha da pobreza, o polimento de dentes custa US$ 200.
Os dentistas profissionais dizem que o alto custo de serviços odontológicos no país é justificado pela necessidade de importação de equipamentos caros, além do tratamento personalizado.

Uma cadeira de dentista custa o mesmo preço de um carro de luxo - como os diversos que estão estacionados em frente ao consultório de Rehman.
Para Ahmed, paquistanês de 60 anos, a única alternativa são os autônomos ilegais. Ele sustenta uma família de seis pessoas vendendo legumes e verduras nas ruas do país.
Ele tem diabetes e seus dentes estão apodrecendo. Ele precisa urgentemente de uma dentadura nova. Alguns hospitais do governo conseguem oferecer tratamento gratuito, mas o acesso é limitado a poucos.
Ele acabou conseguindo o que queria na rua, de forma clandestina.
"Eu me consultei com um médico e ele pediu 3 mil rúpias (o equivalente a US$ 28)", diz Ahmed. "Este cara estava me pedindo 250 rúpias (US$ 2,30). Quando eu disse que não teria dinheiro, ele me disse: 'ok, então pague 200 rúpias (US$ 1,80)'."

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