sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Ex-fiscal gravou conversa com auditor suspeito de chefiar esquema.
Jornal Nacional teve acesso às gravações com exclusividade.

Do G1 São Paulo
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Dois investigados no esquema de desvio do Imposto sobre Serviços (ISS) foram flagrados em escutas discutindo sobre dinheiro e as possíveis consequências da investigação da Prefeitura. Uma das gravações, a qual o Jornal Nacional teve acesso com exclusividade, mostra detalhes de uma reunião ocorrida neste ano.
O arquivo com a gravação do encontro foi localizado no apartamento do fiscal Luís Alexandre Magalhães. Ela é apontada pela promotoria como a prova mais importante, até agora, contra Ronilson Bezerra Rodrigues, ex-chefe de Luis Alexandre e ex-subsecretário da Receita Municipal, responsável por zelar pela arrecadação de impostos.
Ronilson é acusado pelo Ministério Público de comandar o esquema de corrupção que pode ter desviado até R$ 500 milhões da Prefeitura deSão Paulo.
O auditor foi flagrado em uma conversa, gravada pelo próprio Luís Alexandre. O encontro entre os dois teve ainda a presença do fiscal Carlos Augusto Di Lallo Amaral, também investigado por cobrança de propina.
Não se sabe ainda onde se ocorreu a reunião entre os três investigados. Segundo os promotores, foi depois de março deste ano, quando o grupo descobriu que a Controladoria da Prefeitura de São Paulo estava investigando todos eles por suspeita de enriquecimento ilícito. Luis Alexandre sentiu que poderia sobrar só para ele e começou a gravar reuniões do grupo e fazer cópias do material para se proteger.  O Ministério Público confirmou que as vozes são de Luiz Alexandre Magalhães e Ronilson Bezerra Rodrigues.
Entenda a fraude no ISS em São Paulo (Foto: Arte/G1)
Veja abaixo trecho da conversa:
Luis Alexandre - Eu não tava nessa sozinho. Eu tenho todos - todos - os números de certificado. Eu não vou ser bode expiatório.
Ronilson - Isso aí pra mim é uma ameaça.
Luis Alexandre - Não, é um aviso. Eu não vou sozinho nessa p***.
Ronilson - Não vai. Porque eu vou estar contigo.
Luis Alexandre - Eu, o Lallo e o Barcellos não vamos pagar o pato nessa p*** toda.
Di Lallo - Não vai, não vai.
Ronilson - Você não vai precisar me entregar. Sabe por quê?
Luis Alexandre - Eu levo a secretaria inteira. Vai todo mundo comigo. Eu te dei muito dinheiro. Te dei muito dinheiro.
Ronilson - Você sabe por que que você me deu dinheiro? Você sabe por quê? Porque eu te deixei lá.
Luis Alexandre - Isso. Então tá todo mundo junto.
Em depoimento na quarta-feira (6), Ronilson Bezerra Rodrigues negou ter recebido propina e que soubesse do esquema de corrupção. “Apresentamos situações em que ele participou, em que era evidente a participação dele e ele primeiro negava ter participado e após a gente mostrar pra ele que ele estava presente naquele local, naquele dia, com aquelas pessoas, ele dizia que não se recordava daquilo”, disse o promotor Roberto Bodini.
Luis Alexandre Magalhães, que decidiu colaborar com a investigação e foi contemplado com a delação premiada, disse no interrogatório que Ronilson era o mais ansioso para receber a parte dele da propina, porque sempre achava que estavam sendo passado para trás. Afirmou também que essa pressa causava sérios transtornos para o grupo, por causa da dificuldade de ficar andando com dinheiro vivo.
Telefonema
Em telefonema gravado no dia 18 de setembro, com autorização da Justiça, Ronilson reclama, com outra fiscal, que saiu no Diário Oficial que ele está sendo investigado, dentro da Prefeitura.
“É um absurdo. Paula, tinha que chamar o secretário e o prefeito também, você não acha? Chama o secretário e o prefeito que eu trabalhei. Eles tinham ciência de tudo”, afirma Ronilson.
A investigação já descobriu muitos depósitos na boca do caixa em conta pessoal do ex-subsecretário da receita da gestão Gilberto Kassab, eleito pelo DEM e hoje no PSD.
Com dinheiro da propina, Ronilson Bezerra Rodrigues teria comprado pelo menos 11 apartamentos e escritórios em São Paulo, Minas e Rio, além de cabeças de gado para uma fazenda em Minas. Até agora, os promotores não encontraram nenhuma prova de que Kassab soubesse da corrupção.
Kassab nega
Em nota, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab repudiou o que chamou de "tentativas sórdidas" de envolver o nome dele em suspeitas de irregularidades contra funcionários públicos municipais admitidos, há anos, por concurso.

Kassab declarou que essa atitude tem objetivo escuso, exclusivamente para atingir a imagem e a honra dele. Por fim, Kassab lembrou que a investigação preliminar do esquema de propina começou em setembro de 2012 - e que só não terminou porque a gestão dele chegou ao fim. Ainda segundo a nota, essa apuração foi transferida para a administração atual.
O ex-secretário de Finanças de São Paulo, Mauro Ricardo Costa, afirmou que as acusações do auditor fiscal Ronilson, de que tinha ciência do esquema, são absolutamente infundadas.  Mauro Ricardo lembrou que Ronilson foi investigado e exonerado do cargo de confiança ainda na gestão de Kassab.

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